"Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível." (São Francisco de Assis)
  • NEM TUDO QUE RELUZ É OURO.

    NEM TUDO QUE RELUZ É OURO

    Ditos como esse fazem parte de nosso cotidiano popular. Porém penso que poderíamos adicionar mais um ditado para nossa realidade atual, principalmente para aqueles que amam e buscam pautar suas vidas conforme os ensinamentos de Nosso Senhor e Sua Santa Igreja. “Nem tudo que se diz católico é católico”.

    Em agosto de 2015 foi realizada em nossa cidade uma audiência pública contra a famigerada “ideologia de gênero”. Nesta audiência, na qual tive a graça de ser palestrante, vimos uma intensa e bela união de católicos e protestantes contra essa desgraça que ameaça terrivelmente todas as famílias. Nesse mesmo dia esteve presente um número considerável de pessoas que apoiavam efusivamente tal ideologia ao ponto de serem até mesmo agressivos e desrespeitosos. Essas pessoas, na sua grande maioria eram compostas de estudantes defensores de teorias revolucionárias como feministas, abortistas, e até membros de partidos comunistas (sim, o comunismo ainda existe). No final da audiência fui escoltado pela polícia militar por causa de minha atuação, tanto na palestra como nas respostas em defesa da família e da moral cristã.

    Contei esse episódio para poder “me credenciar” a escrever esse artigo e denunciar uma artimanha de grupos contrários à moral cristã, mas que se utiliza da própria Igreja como seu cavalo de batalha nessa guerra cultural. Desde 92 é lançada no Brasil em alguns países a chamada Agenda Latino Americana com temas normalmente sócio-políticos, porém camuflados de temas sociais. Quero me deter na última edição de 2017 com o tema: IGUALDADE DE GÊNERO. Quando ouvimos esse tema, claro já logo percebemos um embuste traiçoeiro típico do pensamento revolucionário gramschiano. O tema sugere a “luta” pela “igualdade entre homem e mulher”. Porém quando se começa a folhear a agenda (eu adquiri em uma livraria católica), vê-se claramente a desonestidade intelectual de seus autores e de seus idealizadores. O que se vê, infelizmente é uma abordagem totalmente contrária à moral católica e até mesmo contra Dogmas e ensinamentos do Magistério. Artigos escritos com o intuito claro de perverter a consciência das pessoas exaltando ideologias nefastas à família e a moral. Para poupar seu bem-estar irei tratar aqui somente de dois. O primeiro o próprio título já o condena: Ideologia de Gênero. Esse tema já foi exaustivamente condenado pela Igreja (http://www.acidigital.com/noticias/papa-francisco-a-ideologia-de-genero-e-contraria-ao-plano-de-deus-10716/), bem como pelos bispos no Brasil através da CNBB (https://jovensconectados.org.br/cnbb-divulga-nota-sobre-inclusao-da-ideologia-de-genero-nos-planos-de-educacao.html). Porém a agenda defende, e mais do que isso critica duramente à Igreja por se posicionar contra. Atente-se para esse trecho retirado do artigo cuja autora é Carmina Navia Velasco de Cali Colômbia e está na página 36: “A partir de temores, fobias e ignorâncias se constrói um inimigo de guerra, o qual deve ser combatido e afastado o mais longe possível como o que pode contaminar: a ideologia de gênero. Entre as instituições que a atacam como o mal dos males estão a Igreja Católica e a maioria das Igrejas cristãs e/ou evangélicas”. É sério, eu sei que é difícil de acreditar, mas é verdade. Uma agenda que é inserida no mercado como “católica” contém esse tipo de afirmação. Mas o pior está por vir, em um outro artigo, agora assinado por Maria Lopez Vigil de Manágua na Nicarágua na página 66 com o título: “MARIA DE NAZARÉ OU A VIRGEM?”, ataca frontalmente a Santíssima Virgem Maria e o dogma de sua virgindade perpétua antes, durante e depois do parto. Prepare seu estômago e leia isso: “Não acabará daninho o dogma da virgindade de Maria, ao apresentar a virgindade como o valor que nas mulheres mais agrada a Deus? Será saudável apresentar a virgindade como um valor superior ao saudável e alegre desfrute da sexualidade?...A todos, mulheres e também homens, o dogma da virgindade de Maria, incrustado nas consciências, pode sugerir uma ideia daninha: o desprezo da sexualidade, especialmente da feminina.” Calma, ainda tem mais “Uma das origens do dano está no dogma da virgindade de Maria? Não podemos revisá-lo? Para começar a mudar a mentalidade, chamemo-la por seu nome, Maria de Nazaré, Maryam, muito melhor que a Virgem...”. E para terminar esse show de horrores, “Ela foi a mãe de Jesus. Não saberemos nunca quem gerou Jesus. Ela o pariu com as dores com as quais todas as mulheres dão a luz. E teve outros filhos.” Sim, é de se respirar fundo e ainda relutar em acreditar que isso esteja escrito em uma agenda que se diz ser católica. Aqui está o centro, o núcleo dessa minha modesta reflexão. Conscientizar as pessoas à necessidade profunda de buscar uma formação séria e confiável para não serem mais enganados pelo o que o Santo Padre Emérito Bento XVI chamou de “ventos de doutrina” em sua Missa Pro Eligendo Pontifice. Você católico tem o direito e até mesmo o dever de se manifestar em defesa de sua Fé. Jamais deixe que a omissão e o respeito humano o impeça de lutar por aquilo que acredita e que lhe é precioso.

    O intuito deste artigo não é julgar, condenar ou tentar encontrar vilões para essa infeliz realidade que atravessamos. Nada disso. Todavia precisamos sim lutar pelo direito de não chamar de católico aquilo que não é católico e que engana muitos de nossos fiéis. Que essas palavras possam encorajar a todos os que estão dispostos a viverem aquilo que crê e ensina a Santa Igreja Católica em seu Magistério e Tradição de mais de 2.000 anos sem sofrer sanções ou advertências. É ter a liberdade de demonstrar livremente posições divergentes da “maioria”, mas que estão em perfeita consonância com o Magistério Católico. É de dar voz a uma imensa quantidade de pessoas que se sentem como que amordaçadas por uma cultura profundamente revolucionária que possui a hegemonia de pensamento em nossa sociedade. É dizer que se pode sim pensar de forma conservadora sem ser taxado de “tradicionalista”, “retrógrado” ou “fundamentalista”. É simplesmente ter o direito de ser católico!  


    Diácono Renato Afonso Vinhal

    Arquidiocese de Uberaba